Reino encantado perdido no chão preto
O Diário - 11 de dezembro de 2024
Marcelo Murta
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Às vésperas do ano novo começo a fazer desenhos verbais. As palavras criam formas e personagens. Roteiros de aventuras e romances para cada mês um capítulo. No réveillon vou ficar até o final da madrugada para descobrir onde moram os besouros. Na parede o prego de João Pacífico não suporta de tristeza segurar o arreio do cavalo de estimação Picasso e um par de esporas. Observo que debaixo da velha figueira repousa aposentado o último carro de boi. No estradão passava boi, passava boiada. Ainda está lá a palmeira na beira do caminho de poeira. Triste Berrante emudecido. As pontes hoje atravessam os caminhões boiadeiros. Isto antigamente nem em sonho existia. Índio Vago, sua " Mágoa de Boiadeiro" é um hino.
Ponto de Pouso da Fazenda São Domingos guarda na memória a última Comitiva. A bruaca só vira estrela em dia de Queima do Alho, coadjuvante com certeza. O cardápio caipira é o artista principal do espetáculo gastronômico. Minhocas correm para não virar isca de peixes. Tilápias empanturradas de ração descansam na beira da lagoa pesque e pague. Estátuas de nuvens expõe cenas do Calvário na galeria dos céus. Pegasus corta a noite iluminada trazendo Noel de chapéu. "As coisas que não existem são mais bonitas", disse Felisdônio amigo do poeta Manoel de Barros. Tem um Reino Encantado perdido em Barretos. O mapa da mina está escondido nos azulejos pintados da fonte na frente do Recinto. Ache se for capaz. Na Cultura é preciso ter raiz para se alimentar de tradição. O maior patrimônio histórico de uma cidade é a mentalidade da sua população. É ela que preserva, divulga e valoriza sua história. Abraços C