Salmo 91:01
luciano-borges - 10 de novembro de 2024
Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais
Compartilhar
Análise Sintática
Frases complexas. Você já ouviu falar a respeito? Elas são orações verbais articuladas entre si. O conceito até parece simples, mas a estrutura... Fato é que nem sempre elas são construídas na ordem direta, isto é, sujeito, seguido de verbo, complemento e adjunto adverbial. É o caso, por exemplo, do primeiro versículo do salmo 91. Nesse cântico da bíblia, ouve-se: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”. Tal poema, aliás, pode ser mais bem compreendido pela análise sintática.
O que nos diz a sintaxe... a análise da disposição das palavras na frase demanda que se procure pelo verbo que deve concordar com o sujeito. Quem é que descansará? Resposta: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo”. Encontrado o sujeito, cujo núcleo é “Aquele”, tudo o que resta é predicado: “à sombra do Onipotente descansará. Eis a inversão! Não seria melhor dizer: Aquele [...] descansará à sombra do Onipotente? Ou seja, sujeito, seguido de verbo e adjunto adverbial?
Certo, encontramos a oração principal! Nesse caso, sujeito, seguido de verbo e adjunto adverbial, mas e a oração suprimida, aquela dos parênteses? Ela deixa claro que um poema como o primeiro versículo do Salmo 91 possui um sujeito complexo. Até porque, assim que a palavra “Aquele” inicia o versículo, o salmista logo inscreve uma oração subordinada adjetiva restritiva... Cruzes! Que nome mais complicado, não é? Nem tanto!
É subordinada, porque ela sozinha não produz sentido: “que habita no esconderijo do Altíssimo”. Como assim? Quem habita? Se ela precisa do núcleo do sujeito para fazer sentido, ela deve então dizer algo sobre ele, qualificá-lo, determiná-lo, por isso é chamada adjetiva! É também restritiva porque diz, com todas as letras, que apenas descansará aquele que vive sob a proteção de Deus. Ora, é essa a condição que configura a restrição.
Há, portanto, um sujeito complexo seguido de um verbo, aliás, intransitivo, que se basta, porque se pode afirmar: “Aquele [...] descansará” e parar por aí. No entanto, não foi o que aconteceu, pois o salmista inseriu, ao final, um adjunto adverbial de lugar. Credo! Outro palavrão do Português. Nada disso! Em verdade, em verdade vos digo: é adjunto porque está coladinho ao verbo. É adverbial por que modifica esse verbo indicando a circunstância, ou melhor, o lugar onde o sujeito descansará.
Luciano Borges é Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, na área dos estudos discursivos e textuais – literatura, artes e mídias digitais