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Ser ouvidos

Diocese de Barretos - 8 de fevereiro de 2025

Ser ouvidos

Ser ouvidos

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Por Pe. Ivanaldo Mendonça, Paróquia São José, Olímpia-SP

‘Ninguém me ouve!’ Esta é uma queixa comum em nossos dias. Na família, nos círculos de amizade, no trabalho, nas terapias e igrejas o ‘ninguém me ouve’ é unanimidade.  Xingos, elogios, desabafos e declarações que reivindicam o direito de ser ouvido, entopem as redes sociais, como que obrigando quem está do outro lado a ouvir. Os instrumentos de comunicação, que alguns têm como melhores amigos, são programados apenas para falar.

Sofremos a carência de um elemento essencial, uma necessidade básica do ser humano: saber ouvir. Não saber e não conseguir ouvir é mais uma dentre as tantas consequências do isolamento ao qual somos estimulados: cada um no seu mundo, à sua maneira, a seu tempo, com sua opinião e vontades. Embora seja a rede o símbolo do mundo globalizado e conectado, vivemos como retalhos, próximos ou pertos, porém, isolados, cada um no seu quadrado.

Saber ouvir exige muito mais que um aparelho auditivo saudável. Esta nobre arte envolve a totalidade do ser, tudo o que somos e temos. Para obter êxito neste exercício, alguns movimentos são fundamentais:

Ouvir a si próprio. Viver a dinâmica do diálogo interno com nossa própria mente, coração, sonhos e projetos, alegrias e decepções. A incapacidade de ouvir o outro é reflexo de não saber ouvir a si próprio;

Acolher o outro. Estar para o outro, permitindo que ele se aproxime, tenha espaço para ser quem é, na condição em que se encontra (alegria ou tristeza, vibração ou decepção). Acolhê-lo por quem ele é, não por aquilo que ele faz ou traz;

Despojar-se de si. Não impor ao outro o que pensamos e sentimos, nossos pré-conceitos e opiniões sobre o que ele diz ou faz. Esta atitude evidencia a capacidade de o ser humano doar-se e reconstituir-se sem perder-se, sinônimo de maturidade e equilíbrio;

Fazer silêncio. Estar totalmente para o outro, permitindo que ele fale, esvazie-se. Fazer silêncio exige que nos livremos do vício de dar respostas e interromper o outro. Tantas vezes o silêncio é a melhor resposta;

Ouvir a si próprio, acolher o outro, despojar-se de si e fazer silêncio, está intimamente relacionado à humildade, qualidade daquele que não tenta se projetar, nem se mostrar superior ao outro. Humildade é a virtude que dá o sentimento exato da nossa modéstia, cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade.

Precisamos ‘ser ouvidos’ porque temos necessidade de falar!

Precisamos ‘ser ouvidos’ porque outros têm necessidade falar!