Sinto compaixão da multidão
Diocese de Barretos - 15 de fevereiro de 2025
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Sinto compaixão da multidão
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Por Pe. Thiago Freitas dos Reis, Paróquia Bom Jesus – Barretos - SP
Após a multidão estar com Jesus três dias e sem nada para comer, Jesus sente compaixão. Este é o relato segundo São Marcos (8,1-10) da multiplicação dos pães. O texto termina dizendo que cerca de quatro mil pessoas comeram deste milagre. Contudo, o que nos chama a atenção, além, do milagre que Jesus realiza, é seu gesto de sentir compaixão, de buscar entender as dores e necessidades das pessoas. Já havia três dias que as pessoas o escutavam, e nem por isso Ele se deixa vangloriar-se. Os outros vêm em primeiro lugar, afinal, em Jesus não há vaidades.
Como será difícil nos dias de hoje vivermos este milagre da partilha e ausência da vaidade. Somos bombardeamos cada vez mais pela exposição na internet, colocando o ego das pessoas em primeiro lugar. Podemos pensar que esta realidade não nos atinge, mas se pararmos para pensarmos um pouco verá que também somos engolidos por essa estrutura. E não raramente perdermos a capacidade de olhar para o outro com compaixão. Aprendemos a julgar, apontando inúmeras saídas possíveis para as pessoas, mas somo incapazes de nos colocarmos em seu lugar, em entender suas dores, suas lutas. E isto não apenas com as pessoas de fora de nossa casa, mas cada vez mais, dentro de nossas casas, temos perdido a capacidade da compaixão uns pelos outros, deixando o diálogo, a compreensão e o perdão de lado, gerando uma verdadeira guerra de egos inflamados sedentos por terem suas verdades aceitas por todos. Como ser feliz, como ser amado e amar, sem a capacidade de olhar o outro com compaixão?
Há tantas pessoas, que por nosso ego, sofrem, pois esperam de nós uma gratidão, um reconhecimento, um afago, um obrigado. Talvez à nossa volta, o maior milagre que precisamos, não seja o do pão partilhado, mas sim, o da vida partilhada verdadeiramente, sem medos e reservas. Talvez seja o milagre de voltarmos a olhar para as pessoas com amor e ternura, sem deixar que ideologias, opções, política nos divida e fira o amor e a reciprocidade. Olhar o outro com compaixão é humanizar nossos relacionamentos, trazendo a vida para o real, para o palpável, e não nos iludirmos com aquilo que brilha no virtual, apenas como uma fachada enfeitada.
Estamos transformando o mundo num lugar onde facilmente as pessoas se tornam invisíveis. E pelas consequências atuais, não está sendo um bom caminho. Que comecemos a olhar uns aos outros com mais ternura e compaixão. Que antes de deferirmos nossos julgamentos, possamos nos colocar no lugar do outro e perguntar se realmente há como ser diferente. Que possamos ter mais gratidão em nossos relacionamentos, para que o amor não se torne uma dose passageira de felicidade. Uma pessoa pode até resistir à falta de pão, mas a falta de compaixão mata!