Tereza de Benguela
O Diário - 27 de julho de 2024

Priscila Ventura Trucullo é professora de história da rede pública estadual; @pritrucullo
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Durante o mês de julho desenrola-se uma série de eventos culturais, educativos e sociais protagonizados e voltados para as mulheres negras. O objetivo é refletir criticamente acerca dos lugares histórico-sociais impostos às estas, evidenciando as intersecções de raça, classe e gênero, presentes nas opressões vividas pelas latino-americanas. É também uma oportunidade para evidenciar a história de luta e resistência das mulheres pretas, valorizando seus saberes, estéticas e ancestralidades. O “Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha” é celebrado em 25 de julho desde 1992, quando realizou-se o “1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas” na República Dominicana. No Brasil, a Lei nº 12.987, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 2014, investiu a data como “Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra”.
A homenageada é “um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional”, mas que tem sido desvelado graças às pressões dos movimentos de mulheres negras e às novas pesquisas que buscam “escovar a história a contrapelo”. Por exemplo, a leitura dos “Anais de Vila Velha: 1734-1789” evidenciou que Tereza “[...] governava esse quilombo [do Quariterê] a modo de parlamento [...] [e] eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executavam à risca, sem apelação nem agravo”. O trecho revela a autoridade e ancestralidade de Tereza alicerçadas em “[...] tradições dos povos guerreiros Imbangalas e Ovimbundos, que ocupavam o planalto de Benguela, na África [...]”. A rainha quilombola liderou a resistência militar contra os ataques ordenados pelo governador do Mato Grosso, antes de sucumbir a ferimentos e acabar presa em 1770. “‘Morta ela’, reporta mais uma vez o escrivão, ‘se lhe cortou a cabeça e se pôs no meio da praça daquele quilombo, em um alto poste, onde ficou para memória e exemplo dos que a vissem”’ (CAMBRUZZI, 2024). Eis que mais de 200 anos depois, contrariando a vontade de seus algozes, a memória de Tereza emerge como um poderoso símbolo da força e da luta das mulheres negras brasileiras contra todas as formas de opressão. Viva Tereza de Benguela!