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Uma vida que se consome para consumar-se

Diocese de Barretos - 27 de março de 2025

Uma vida que se consome para consumar-se

Uma vida que se consome para consumar-se

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Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

Quem ainda não se perguntou sobre o sentido da própria vida e do seu destino? Indubitavelmente, a grande maioria das pessoas, sejam crentes ou ateus, cultos ou incultos, no amanhecer ou no entardecer da vida, buscará uma resposta para essa pergunta inquietante.

Por sua origem e finalidade, a vida humana é sempre um mistério a ser examinado tanto pela investigação científica quanto pela luz da fé. Sobretudo para os cristãos, que professam a fé na ressurreição final da carne em vista da vida eterna.

Tanto para as ciências humanas quanto para a ciência revelada pela fé – a teologia –, a vida é dada para ser vivida, isto é, para consumar-se. Se temos a certeza absoluta de que nascemos, também é absolutamente certo que todos passaremos pela experiência da morte, seja ela entendida pelos ateus como um fim absoluto, seja professada pelos crentes como páscoa, isto é, passagem para a vida eterna. Como um fruto que, após florescer e crescer, amadurece e cai, assim também é a vida humana. Como diz a Escritura: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24).

Entretanto, uma vida que não se consome para consumar-se é apenas uma vida arruinada, destruída. Assim acontece com tantos que se entregam aos vícios, ao pecado e a todo tipo de mal, degradando a própria existência num acelerado processo de morte física e espiritual. Uma vida assim é como um fruto adoecido que não amadurece; isto é, não serve para alimentar nem adoçar. E o pior: sua semente é estéril, não tem vida.

Por outro lado, uma vida que, ao consumir-se, se consuma é uma vida edificada, transformada. Assim foi e é a vida de tantos santos que se doaram em prol do Reino de Deus. Consumindo suas vidas por causa do Evangelho, inspiram muitas pessoas a imitá-los: suas vidas nutrem a fé e a esperança de tantos que delas se alimentam espiritualmente. São inúmeras as sementes lançadas e fecundadas no terreno de muitos corações pelo testemunho dos santos.

De fato, escreveu São Vicente de Paulo: “Tenhamos por máxima indubitável que, à proporção que trabalharmos na perfeição de nosso interior, nós nos tornamos mais capazes de produzir frutos para o próximo” (Coletânea de Pierre Coste, Vol. XI). Também expressou São Francisco de Assis em sua belíssima oração:"Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna!"

Uma vida que se consome em prol de outras vidas e do Reino é como uma vela que se consome até apagar-se: de tanto iluminar ao seu redor com a luz de sua existência, chegará o momento em que se consumirá totalmente para consumar-se na perpétua luz do Ressuscitado.